quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Revolução Cultural Chinesa

A Grande Revolução Cultural Proletária (conhecida como Revolução Cultural Chinesa) foi uma profunda campanha político-ideológica levada a cabo a partir de 1966 na República Popular da China, pelo então líder do Partido Comunista Chinês, Mao Tsé-tung, cujo objetivo era neutralizar a crescente oposição que lhe faziam alguns setores menos radicais do partido, em decorrência do fracasso do plano econômico Grande Salto Adiante (1958-1960), cujos efeitos acarretaram a morte de milhões de pessoas devido à fome generalizada, fato conhecido como a fome de 1958-1961 na China.

A campanha foi acompanhada por vários episódios de violência, principalmente instigada pela Guarda Vermelha, grupos de jovens, quase adolescentes, oriundos dos mais diversos setores (militares, camponeses, estudantes, elementos do partido, governo etc) que, organizados nos chamados comitês revolucionários, atacavam todos aqueles suspeitos de deslealdade política ao regime e à figura e ao pensamento de Mao, a fim de consolidar (ou restabelecer) o poder do líder onde fosse necessário.

Os alvos da Revolução eram membros do partido mais alinhados com o Ocidente ou com a União Soviética, funcionários burocratas, e, sobretudo, intelectuais (anti-intelectualismo). Como na intelectualidade se encontravam alguns dos potenciais inimigos da revolução, o ensino superior foi praticamente desativado no país.

Incidental ou intencionalmente, o movimento acabou enfraquecendo os adversários de Mao e representou uma depuração partidária, contra o revisionismo que se insinuava. O processo foi oficialmente terminado por Mao, durante o IX Congresso do Partido Comunista da China em abril de 1969. Todavia, especialistas afirmam que ele durou, de fato, até à morte de Mao, em 1976, e a subida ao poder de Deng Xiaoping, então Secretário-Geral do Partido, o qual, gradualmente, deu início às mudanças nos rumos políticos e econômicos do país.

Pouco depois da morte de Mao, os membros do grupo denominado Camarilha dos Quatro (composto por Jiang Qing, esposa do líder falecido, Zhang Chunqiao, Wang Hongwen e Yao Wenyuan) são presos sob a acusação de terem cometidos excessos por ocasião da implementação e consolidação da Revolução Cultural, bem como de ambicionarem tomar o poder.

Segundo Simon Leys :"a revolução cultural, que de revolucionária só teve o nome, e de cultural só o pretexto tático inicial, foi uma luta pelo poder travada na cúpula entre um punhado de indivíduos, por trás da cortina de fumaça de um movimento de massa fictício." 

Foi naquele período que se alavancou a produção e distribuição do Livro Vermelho, como é mais conhecida no Ocidente a coletânea de citações de Mao que exaltam sua ideologia, bem como professam uma forma de culto à sua personalidade.

Antecedentes

A idéia essencial da Revolução Cultural era manter o fervor revolucionário e um estado constante de luta e superação, sem os quais, acreditava o Grande Timoneiro (apelido de Mao), a revolução comunista estaria fadada ao fracasso. Um dos antecedentes (embora em sentido quase oposto) da Revolução Cultural foi o chamado Desabrochar de Cem Flores ("Que desabrochem cem flores, cem escolas de pensamento..."), na década anterior.

O Desabrochar de Cem Flores foi um período na história da República Popular da China (1956-7) durante o qual o Partido Comunista incentivou a expressão das mais variadas escolas de pensamento (inclusive anticomunistas) para corrigir e melhorar o sistema.

A campanha visava inicialmente evitar que a China se tornasse refém de uma única escola de pensamento – o que era inaceitável pela tradição do país –. Os primeiros passos do Desabrochar envolveram apenas burocratas locais e suas queixas em relação a problemas da burocracia central do Partido, mas em 1956 ela se tornou mais ampla, aberta a qualquer intelectual e crítico do governo.

O nome deriva do slogan chinês tradicional: "Que flores de todos os tipos desabrochem, que diversas escolas de pensamento se enfrentem!" Mao Zedong definiu o objetivo do Desabrochar de Cem Flores em 1956: "É apenas através de discussão, crítica e raciocínio que nós podemos promover a correção das idéias, superando as ruins e realmente fixar nossos objetivos. (…) Nós não devemos temer essas coisas."

De início os intelectuais se mostraram céticos, apesar de todas as garantias de Mao para a liberdade de expressão, e surgiram pouquíssimas críticas ao sistema. Somente após alguns meses as críticas se avolumaram, e concentravam-se especialmente na baixa qualidade de vida da população, na corrupção, no banimento à literatura estrangeira, nas relações contra as mulheres, e na falta de diversas liberdades.

Com o tempo, porém, as críticas se tornam pesadas demais e foram identificadas pelo Partido como vindas de "direitistas burgueses", e decidiu-se por encerrar o Desabrochar de Cem Flores. Os intelectuais perderam muito crédito junto ao Grande Timoneiro, que iniciou uma campanha contra os imperialistas e restaurou o sistema ideológico que viria a ser conhecido como Maoísmo.

Para alguns críticos (especialmente ocidentais), a campanha do Desabrochar de Cem Flores foi uma estratégia do Partido Comunista Chinês para identificar elementos anti-revolucionários e expurgá-los antes que pudesse prejudicar a construção do comunismo. Mas ao que tudo indica o próprio Mao teria ficado insatisfeito e surpreso com a falta de apoio dos intelectuais ao comunismo, fato que agravaria sua desconfiança em relação a esse grupo e levaria, em parte, ao movimento conhecido como Revolução Cultural, na década seguinte.

A Revolução Cultural pretendia tornar cada unidade econômica chinesa (fábricas, fazendas, etc) em uma unidade de estudo e reconstrução do comunismo. Expandindo, portanto, a coletivização, o público para o campo das idéias – o que encontrava natural barreira no academicismo e no hábito de que o conhecimento só deveria ser produzido em centros específicos. Mao acreditava que a próxima fase da Revolução Chinesa seria justamente ultrapassar a revolução da ordem econômica para a ordem ideológica, para a alma do cidadão chinês. Essa é, em síntese, a justificativa para o adjetivo Cultural da revolução.

Foi consequência indireta do programa conhecido como Grande Salto Adiante, lançado em 1958. O Grande Salto tinha por objetivos estruturar a produção agrária em sistema cooperativo e organizar a produção industrial, além de outros objetivos específicos como o aumento da produção de minerais através de milhões de pequenas unidades produtoras – os fornos caseiros.

Em 1961 o programa foi abandonado, em razão de diversos insucessos - entre eles a morte de 65 milhões de chineses - e do rompimento entre a China e a União Soviética no ano anterior.

Como consequência do fracasso do Salto houve um período de grande fome no começo da década de 1960, pois a produção agrícola estava em um estado de quase-colapso. Na resolução da crise tiveram sucesso dois promissores elementos do Partido Comunista, Liu Shaoqi e Deng Xiaoping, que começavam então a desafiar o poder e prestígio de Mao. Liu e Deng planejavam remover poderes concretos de Mao e deixá-lo apenas como uma figura decorativa.

Mao antecipou-se aos dois, e passou a atacar Liu em 1963, declarando então a idéia de luta revolucionária cotidiana e também a necessidade de promover uma limpeza nos quadros político, econômico, organizacional e ideológico da República.

Problemas com crítica intelectual nos anos seguintes levariam a uma distensão entre os membros do governo, e, finalmente, em 1966, Mao iniciou a Revolução Cultural. O primeiro comitê foi formado em 29 de Maio daquele ano na Universidade de Tsinghua , com o objetivo de expurgar e eliminar a oposição. É importante destacar que o próprio Lênin havia advertido quanto à necessidade de depurar o partido de tempos em tempos, para evitar a contra-revolução.

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